Uma vez por ano temos a oportunidade de voltar o relógio uma hora e fazer, quem sabe, algo de útil na vida. Eu, por exemplo, decidi escrever esse artigo. E confesso que estou escrevendo de bate-pronto, sem revisões. Estou fazendo isso agora, quando deveria atrasar meu relógio em uma hora. Gosto de escrever. Acho importante sabermos expressar nossas opiniões em uma folha de papel, ou na tela branca do Word. Então, para mim, escrever é algo útil.

Pensemos o seguinte: voltar no tempo ocorre somente uma vez por ano, ao menos aqui no Brasil. Então, ao caro leitor, que possivelmente já leu esse artigo alguns dias depois dessa ocasião, sugiro que não deixe passar as oportunidades que a vida oferece.

Cada dia é único. Não volta. Faça sempre algo útil no dia que se chama HOJE. Aproveite. Seja gentil. Pense na sua vida como um milagre do universo, ou de Deus, se você acredita nele. Imagine que o funcionamento de seu cérebro é tão ou mais complexo que o giro das galáxias pela escuridão do espaço. Você pode pensar sobre si, sobre os outros, pode decidir o que fazer, até mesmo fazer coisas de que você não gostaria. Saiba que a Terra e o Sistema Solar levaram bilhões de anos para que a vida, como a sua, pudesse ter a forma como você hoje a concebe. E não negue: você faz sim parte disso. O dia que passou não volta. Então faça acontecer.

Faça acontecer. Já escrevi sobre isso em meu artigo anterior nesse espaço. Não deixe sua vida como uma página em branco do Word. Escreva, viva, documente, comente, lembre, relembre, fotografe, grave. O tempo só volta no fim do horário de verão. E mesmo assim serve para escrever textos pequenos, como esse que aqui escrevo à noite sozinho na sala de casa.

O ano de 2011 está sendo um tanto peculiar para mim. Perdi uma pessoa muito especial em minha vida. Talvez a mais especial delas. O nome dela é Onira de Barros Correa, minha querida avó. O problema da morte não deve ser o lamento, mas a saudade. Sei que vivi ao lado dessa Senhora o quanto pude. Ela viveu tudo o que Deus permitiu, afinal veio a falecer com quase 92 anos. Gostaria de aproveitar essa hora de sobra para ficar mais uns minutos ao seu lado, quem sabe dar um pouco mais de atenção, ou somente vê-la e dar um forte abraço. Nem sempre a vida nos dá a chance da despedida.

Por isso, despeça-se sempre, pois a qualquer momento um furacão pode virar sua vida de pernas pro ar. Ame intensamente. Se não ama, trate de amar. Converse, interaja com alguém, nem que seja um estranho na fila do banco. Jesus Cristo dizia para amarmos até nossos inimigos: alguém na fila de um banco certamente não seria um inimigo seu… a não ser que estivesse na sua frente?

Na verdade, o que levamos daqui são as recordações. As boas, claro! Como disse certa vez o ex-ministro Rubens Ricupero, “o que é bom a gente fatura e o que é ruim a gente esconde”. Sabe que na época eu achei uma afronta aquilo que ele falou (e que somente as antenas parabólicas captaram ao vivo), mas atualmente tenho uma leve sensação de concordar. O mal que te fazem, esqueça. O bem, devemos lembrar, e retribuir se possível. Aliás, retribuir em qualquer circunstância. Creio que a generosidade gratuita emana no ser humano um perfume agradável, e que não é natural dele, inato. Escrevo isso por entender que todo o homem já nasce com “defeito de fábrica”, e precisa de um recall. Imagina quantas vezes gostaríamos de dar um “reverse” em nossos atos passados, e corrigir palavras ditas, agressões praticadas, caminhos errados…

Bom, se eu pudesse dar esse “reverse” agora, no fim do horário de verão, já vou falando que ficaria mais uns 60 minutos com a Dona Onira. A mim, contudo, reles mortal, apenas me cabe mover o ponteiro dos minutos em 360 graus no sentido anti-horário… e voltar no tempo para escrever esse pequeno texto, deixando um registro desse momento para o nobre leitor tirar suas próprias conclusões.