Esses dias fui fazer umas compras em um supermercado da Zona Sul de Porto Alegre e reparei uma fila de aproximadamente 20 pessoas. Curioso, perguntei a um de seus integrantes a finalidade daquela fila.
– A mega acumulou! Respondeu-me um já cansativo (pela espera) aspirante à concorrente daquele concurso semanal da Mega-Sena, saciando minha momentânea curiosidade. Sua resposta também frustrou qualquer expectativa minha em entrar naquela fila, já que somente entro em filas com alguma finalidade razoável. E decididamente, jogar na Mega-Sena não era naquele instante algo razoável… ao menos para mim, que acredito entender um pouco sobre probabilidades e análise combinatória.
Na minha singela opinião, a Mega-Sena é uma ingrata aposta que um grande banco estatal faz contra milhões de incautos apostadores, onde somente 32% do valor recolhido pelas apostas fazem parte da premiação. À primeira vista, pode parecer fácil acertar as seis dezenas de um concurso. Contudo, diante de uma análise acurada, cai por terra qualquer aparência de facilidade deste jogo.
Se a Mega-Sena tivesse apenas 7 dezenas para escolhermos, teríamos 7 combinações distintas. Ou seja, exclua uma dezena dentre as 7 e teremos as 7 possíveis. Com 8 dezenas, já teremos uma combinação de 8 elementos tomados 6 a 6, o que equivale a 28 possibilidades distintas. Imagine agora 60 dezenas, como é o caso do jogo em estudo. Estaríamos diante de uma combinação de 60 elementos tomados 6 a 6. Isso equivale 50.063.860 combinações possíveis! Para arredondar, em bom português: 50 milhões de combinações. Você poderá dizer: mas sempre alguém acerta. Claro! Pois em média 5 milhões de bilhetes são registrados. E ainda assim, com regularidade, ela acumula.
Essa modalidade de aposta da Caixa Econômica Federal surgiu em meados de 1996 e, desde então, temos 1.251 concursos passados. Nenhuma dessas combinações sorteadas ao longo da vida do concurso se repetiu. A chance de serem sorteadas as dezenas 1, 2, 3, 4 , 5 e 6 é a mesma da última combinação que você jogou na semana passada e jogará na seguinte. Considerando que um ano tenha 52 semanas, e dois concursos semanais, com um jogo simples levaria algo em torno de 481.000 anos para serem sorteadas todas as combinações possíveis, desconsiderando-se qualquer repetição!
Ok, você poderia afirmar: mas esses cálculos foram feitos tomando-se por base uma aposta mínima. Vamos então abrir a mão para o Governo Federal. Seja o valor da aposta única em R$ 2,00. Digamos, por exemplo, que gastássemos 100 reais por concurso. Agora é uma aposta boa! Isso equivaleria em média a 200 reais por semana ou 800 reais por mês, ou ainda R$ 9.600,00 anuais. Então, ao longo de um ano, teríamos apostado em 4.800 dezenas para tirar a sorte grande.
Repetindo essas dezenas anualmente até acertarmos, levaríamos em torno de 10.400 anos para cobrir todas as combinações possíveis. Nem os restos mortais de Tutancâmon durariam tanto…
Então, caro leitor, como a Mega-Sena tem somente uns 15 anos de vida, e você possivelmente não passará sequer dos 100 anos de idade; não querendo ser pessimista, caso ainda jogue, eu modestamente o aconselharia a declinar desse sonho. Sonho que não se realiza não é sonho, é ilusão.
Segundo o Nacional Safety Council (órgão de estatística americano), a chance de cair um raio em uma pessoa ao longo de sua vida é de 1 em 80.000. Conclui-se, portanto, que é mais provável você ser partido ao meio por um raio do que acertar as 6 dezenas de Mega-Sena.