Escrevi hoje essa carta a meus vizinhos. Se você tiver problemas similares, deixe um recado, ou envie um e-mail, que à medida que eu puder, vou publicando. Apesar de sermos seres sociais, sempre temos algum tipo de problemas no convívio condominial. Um dia gostaria de morar numa praia deserta para efeitos de comparação. Abaixo transcrevo o que escrevi:

“Havia pensado em escrever esta carta somente aos vizinhos das unidades 702, 802 e 902, uma vez que moram exatamente acima de mim. Contudo, estaria sendo egoísta, afinal… os moradores das unidades 402 e 502 estão, segundo a lei da gravidade, também sujeitos ao mesmo problema ao qual pretendo, em poucas linhas, aqui relatar.

Reconheço que pessoas ao redor do globo têm sofrido com problemas de ordem muito maior: terremotos e tsunamis na Ásia, deslizamentos de terra na região serrana do Rio de Janeiro, alagamentos em São Lourenço do Sul, dentre outros. Sofremos volta e meia com a perda de entes queridos, como eu, que recentemente perdi minha querida avó. Isso mostra que somos seres humanos, e como tal, limitados. Dilemas de menor envergadura igualmente nos afetam: uma unha encravada, um cisco no olho, uma pedrinha no calçado, uma espinha dentro da narina, uma goteira ao longo da noite… Podem parecer à primeira vista irrelevantes, mas não são.

Pois bem. É sobre goteiras que pretendo aqui fazer um desabafo. Esta noite do dia 2 de abril não consegui dormir, em razão dessas gotinhas que insistiam incessantemente cair sobre o protetor de meu condicionador de ar, gerando um toc toc toc toc toc insuportável, transformando meu sono em uma aventura noturna. Ocorre que de quanto mais alto vem a gota, maior é sua energia potencial que, ao se transformar em energia cinética, adquire velocidade e, ao ir de encontro em algo que esbarre seu caminho, transforma-se finalmente em energia sonora, perturbando o vizinho de baixo.

Sim, entendo que estamos diante de um impasse estrutural, já que este prédio não foi projetado com cânulas para receber a água gerada pelos sistemas de ar condicionado individuais. Resta-nos, então, nos conformarmos ou contornar o problema de alguma forma: prefiro a segunda opção, mas ainda não cheguei a uma conclusão ideal sobre ela.

Creio que esta madrugada teve uma temperatura agradável, não necessitando do uso de ar condicionado. Mas também entendo que não é da minha conta dar “pitacos” sobre o uso ou não de condicionador de ar de outrem. Se tiver 10?C, e quiser usar, não é problema meu. Aliás, vai ser problema meu se as gotinhas provenientes desse aparelho fizerem toc toc toc toc nos meus ouvidos.

Acontece que as gotinhas vão caindo, caindo, e caindo. Podem cair direto, fazendo um barulho maior, conforme a lei física explicada no 3º parágrafo. Ou caindo por etapas, de um módulo para outro, e assim sucessivamente, até “morrer” no 402 que, possivelmente em virtude disso, já providenciou uma modesta solução: colocar um paninho em cima do aparelho para amenizar o ruído. Confesso que já fiz uma vez isso, mas o paninho voou pela ação do vento e logo desisti.

Notei ao analisar a trajetória das gotas ao caírem dos condicionadores de ar que elas são facilmente influenciadas por qualquer brisa. Muitos caninhos que ficam de fora e expelem a água desse modo, quanto mais alto for o andar, mais sujeita estará a gota à mudança de trajetória em seu percurso até o chão (ou até algum obstáculo anterior). Raramente uso ar condicionado, mas quando uso, tento observar o trajeto das gotas para não gerar desconforto sonoro ao vizinho de baixo. Aliás, já me coloco à disposição dos moradores do 502 e 402: se meu ar estiver ligado e as gotas estiverem causando som inoportuno, podem me avisar direto aqui em casa que desligo na hora, sem pestanejar: sei como é monótono um som de uma nota só.

Aos moradores dos andares superiores, me resta pedir atenção à trajetória de suas gotas. Uma dica: notei que os caninhos que ficam bem próximos à parede expelem a água escorrendo por ali, não gerando som para os vizinhos de baixo. Acho que essa seria uma solução mediana para isso. O ideal mesmo seria colocarmos um cano de cima a baixo do prédio para o acesso das cânulas, mas isso, segundo a Construtora, afetaria a estética do Condomínio. Independentemente disso, estou bolando um forro para colocar sobre o módulo protetor do ar condicionado de meu quarto. Com isso, pode até chover torrencial que não vai fazer barulho.