Na sociedade de consumo o que seria do mercado sem o crédito? Possivelmente não seria o mercado como o concebemos atualmente. Assim como a roda e o fogo significaram para as eras remotas, o crédito constitui a espinha dorsal da estrutura capitalista no mundo contemporâneo. Arrisco a dizer que é, depois da moeda, sua maior invenção. Possivelmente sem o crédito nações não se desenvolveriam e empresas e pessoas não se estabeleceriam.
O crédito é então importante? Sim, ok. Mas, especialmente no Brasil, as pessoas ainda não têm cultura financeira suficiente para administrar dívidas, em especial aquelas decorrentes do cartão de crédito.
Seja comprar um eletrodoméstico, jantar em um bom restaurante… ou comer depressa em um fast food, viajar de avião, alugar um carro, hospedar-se em um hotel… enfim, você verá que a facilidade, conveniência e praticidade do uso do cartão de crédito são, sem dúvida, atributos indispensáveis em nosso cotidiano. Usado com regra, moderação e sabedoria, é um importante meio de gerenciar recursos financeiros disponíveis ao longo de um mês, ou em meses futuros.
O problema é que esses benefícios do uso do cartão de plástico trazem consigo algumas armadilhas, como a tarifa mensal e, sobretudo, o crédito rotativo. As administradoras de cartões já faturam na origem da compra, ou seja, recebem um determinado percentual do vendedor sobre vendas pelo cartão. De fato, elas não precisariam cobrar tarifas de seus usuários. Tanto é verdade que boa parte dos cartões são gratuitos: Hipercard, Amerincan Express, Master Card e Cartão Bourbon – não cobram anuidade. Se alguém paga taxa mensal ou anual para tê-los, é porque quer – eu não pago. A tarifa mensal, ou anual, na verdade é mais um dispêndio para o usuário do cartão. Mesmo assim, “entrei numa fria”: contratei o MasterCard com anuidade “gratuita”, e por displicência venho pagando mensalidades de R$ 10,90, justamente por não utilizar o cartão (boleto zerado). Ou seja, esse cartão já me induz a gastar, mesmo que não haja necessidade; do contrário, pago também por seu não-uso. Mas já tentei usá-lo, e a administradora ainda não o liberou para uso em compras. E o callcenter da Mastercard é um bom teste de paciência para qualquer um…
Contudo, o principal ônus que os usuários de cartão de crédito ficam sujeitos são as escorchantes taxas de juros. O juro nada mais é que um “aluguel” de determinado recurso monetário. A taxa de juros, por sua vez, é uma alíquota (ou percentual) que incide sobre uma base de cálculo, que é o valor emprestado, ou, no caso do cartão de crédito, o valor que deixamos de pagar, ou seja, “rolamos” para o mês seguinte.
As taxas mensais sobre o saldo devedor em quaisquer cartões de crédito variam de 11% a 16%. Para efeito de comparação, os juros e dividendos mensais da caderneta de poupança não passam de 0,6% ao mês. Como as taxas são capitalizadas mensalmente, elas acabam tendo efeito de juros sobre juros (juros compostos), o que se torna uma gelada “bola de neve”. Por exemplo, uma taxa mensal de 11% equivale a aproximadamente 250% ao longo de um ano inteiro. Assim, para exemplificar, a 11% ao mês, uma dívida de R$ 300,00 torna-se ao fim de um ano em R$ 1.049,00. Particularmente, desconheço investimento que dê mais retorno.
Portanto, exceto em emergências, evite usar o saldo rotativo de seu cartão. Mesmo que o pagamento mínimo seja convidativo e com letras garrafais, desconfie. Acostume-se a pagar o que você usou durante o mês. Se “rolar” algum valor, que seja o mínimo possível. Em compras parceladas pelo cartão, habitue-se a perguntar sobre a incidência de juros, se houver, e qual seu valor. Compras parceladas são vantajosas quando o valor à vista e a prazo são equivalentes, mesmo assim seja prudente, a fim de não se comprometer com saldos de longa duração. Evite saques pelo cartão de crédito: empréstimos desse tipo são onerosos. Livre-se de cartões que você não usa (ainda vou conseguir). Há uma tendência latente de gastarmos mais do que temos, quando estamos habilitados e com um bom saldo disponível no cartão, por isso, como treino, pague suas compras algumas vezes com dinheiro, e tente uma vez que outra zerar a dívida de seu cartão – quando você não pagar por isso, claro…
Acredito que seguindo esses conselhos, com certeza o fim do mês não vai ser o fim do mundo.