Talvez um dos livros mais provocativos que eu já tenha lido, “O Andar do Bêbado”, do Físico polonês Leonard Mlodinow discorre sobre os efeitos da aleatoriedade na vida humana, seja no esporte ou no mercado financeiro, na medicina ou na degustação de vinhos. Antecipo que a narrativa é de fácil leitura, com citações de casos envolvendo teorias matemáticas além de histórias das vidas dos homens que ajudaram a criá-las. Tanto cientistas clássicos são citados, como também figuras da atualidade, como Bill Gates, Madonna e Stephen King, que devem muito de sua fama ao acaso.

De forma alguma precisará o leitor conhecer Matemática de maneira profunda. Os capítulos 2 e 3 tratam um pouco de teoremas de probabilidade tão-somente. Mas nada que torne a leitura monótona. Pelo contrário, acredito que a própria leitura do livro incentive uma busca pelos temas lançados pelo autor, o que não deixa de ser algo propositivo e instigante.

O livro tem por volta de 250 páginas de efetiva leitura: facilmente em duas semanas pode ser lido. Para ser absorvido, entretanto, sugiro duas leituras. Sim, duas leituras pra mastigar bem os interessantes casos e ideias propostos ao longo do texto. Como o caso do homem que ganhou na loteria nacional espanhola com um bilhete que terminava com o número 48, e revelou a teoria que o levou à fortuna: “sonhei com o número 7 por 7 noites consecutivas”, disse, “e 7 vezes 7 é 48”. Um erro significativo, não é mesmo? Na verdade, no oceano de dados que inunda nossa vida todo o santo dia, procuramos dar a eles significados por um “olhar próprio” através de nossas percepções.

O nome do livro se justifica, uma vez que “o andar do bêbado” de alguma forma, pode seguir trilhas muitas vezes sem sentido e sem uma determinada direção, sem uma lógica predeterminada. Tal como moléculas, que ao flutuarem pelo espaço chocam-se com suas moléculas irmãs. De certa forma, segundo o autor, isso pode ser também uma metáfora para a nossa vida, nosso caminho da faculdade para a carreira profissional, da vida de solteiro para a familiar, do primeiro ao último buraco de um campo de golfe, ilustrando o papel do acaso no mundo que nos cerca.

Esforço e talento x acaso. Nota-se uma combinação entre esses quesitos. Imaginamos que Bruce Willis faz sucesso porque é um bom ator. Ou ele é um bom ator porque faz sucesso? Ou Madona foi ao estrelato por sua linda voz? Ou realmente Stephen King é um bom escritor porque suas obras são sucesso de vendas? Não necessariamente, afirma o autor. Tanto atores, quanto cantores ou escritores, ou mesmo nós, precisamos que “Deus jogue seus dados a nosso favor”. A leitura nos instiga. Imagine o bater das asas de uma borboleta que vem a causar uma tempestade… Este “efeito borboleta” também afeta nossas vidas, de uma forma ou de outra.

Não podemos prever nem controlar o futuro. Mas isso não impede que possamos planejar nossos caminhos e torcer para que eventos fortuitos contribuam para o nosso sucesso, e não para o nosso sofrimento. Deus joga ou não joga dados? Einstein tinha um palpite…