Uma má administração do capital de giro de uma empresa pode causar efeitos nocivos, que resultam, dentre outros fatores deletérios, o chamado “efeito tesoura”, que é um conceito criado pelo professor francês Michel Fleuriet em 1978. Mas o que seria, afinal, esse “efeito tesoura”? Seria na verdade a inversão de duas funções importantes na gerência de caixa de uma empresa: enquanto a necessidade de capital de giro (NKG) aumenta, o saldo de caixa tende a ser menor. O gráfico que demonstra essa relação lembra muito uma tesoura aberta, por isso o nome.

Um crescimento desproporcional no volume de vendas com empréstimos desmedidos podem gerar esse efeito. Via de regra, aconselha-se que a empresa tenha um ciclo de vendas equivalentes aos prazos e taxas dos empréstimos, que acarretam o pagamento de despesas financeiras afetando não somente o resultado, mas também o fluxo de caixa e a liquidez da empresa. É óbvio também que reduções nas vendas são causas disso, pois os estoques se mantém altos, mantendo-se igualmente alta a NKG.

Com prejuízos sucessivos, o saldo de caixa realmente tende a ficar negativo no médio prazo. Nem sempre o aumento de vendas é algo positivo. Mas a pergunta que faremos é: um aumento de vendas decorrente de que? Da opção de contrair novos empréstimos ou utilizando o reinvestimento do lucro no próprio negócio? Pois nem sempre os efeitos da alavancagem financeira são benéficos. Lembrando quem não lembra: alavancagem financeira é o uso de recursos de terceiros, com decorrente assunção de encargos financeiros regulares que afetam o resultado, mas que podem, por outro lado, remunerar mais os capitais próprios. Isso naturalmente é um risco, contudo, também uma oportunidade, tendo a certeza que o incremento de vendas proporcionará acréscimos tais aos lucros, que possam, além de cumprir as obrigações financeiras, remunerar o capital próprio.

Reconhecer o fluxo de caixa da empresa é fundamental, uma vez que ele tem ligação direta com a gestão do capital de giro. Fluxos longos requerem capital de giro maior. Financiar o giro de uma empresa com recursos próprios, preferivelmente a partir do lucro líquido é a tônica, portanto. Aumentar vendas, pode ser a solução, sim, mas sem diminuir o saldo de caixa.

A propósito, disponibilizo abaixo uma questão do Concurso Público para o BRDE, que aborda o tema.

QUESTÃO 55 – Conforme o Modelo Fleuriet, as principais fontes de distúrbios na situação financeira da empresa e que podem ocasionar o desenvolvimento do efeito tesoura podem ser decorrentes dos seguintes fatores:

I. Alterações nos prazos operacionais de estoques, clientes e fornecedores. Claro que sim, uma vez que, de que adianta conceder prazo maiores aos clientes sem ter a respectiva contrapartida de fornecedores? Vale a pena financiar o giro do cliente, aumentando prazos, só pra aumentar as vendas?

II. Distribuição de resultados elevada resultando em baixa retenção de lucros em níveis insuficientes para fazer frente ao aumento da NCG. Também correta, uma vez que a retenção de lucros é uma importante forma de refinanciamento, beneficiando o giro, e evitando que a empresa contrate novas dívidas.

III. Redução das vendas – a diminuição das vendas pode provocar o aumento da NCG devido ao acúmulo de estoques. Item correto, conforme relatei acima.

IV. Investimentos elevados com retorno a longo prazo não financiados por Exigível a Longo Prazo e/ou Aumento de Capital. Sim, não pode a empresa financiar ativos fixos com recursos de curto prazo.

V. Inflação baixa que causa a redução da NCG. Inflação baixa ou alta, não afeta a NCG.

Quais estão corretos?

A) Apenas I, II e IV.
B) Apenas II, III e V.
C) Apenas III, IV e V.
D) Apenas I, II, III e IV.
E) Apenas I, II, III e V.